Ficar Rico tem Mais a Ver com Sorte do que Talento.

Imagem: Pixabay

Matéria originalmente publicada em inglês por Danny Dorling, professor na Universidade de Oxford e autor de The Equality Effect, no site BBC, traduzida, sumarizada e adaptada por Lineu Vitale, “Insider” FocoAmerica.

A Inglaterra tem um dos maiores níveis de desigualdade de renda na Europa. Nos países onde a desigualdade é menor, os ricos tendem a ser menos arrogantes com os menos favorecidos e menos delirantes sobre os motivos que os levaram a se tornar ricos.

Publicado no jornal britânico The Guardian, um banqueiro inglês declarou que um indivíduo pode começar do zero e chegar a um patrimônio de £100 milhões de libras no prazo de 20 anos.

Na verdade, ninguém cria riqueza do nada, como o termo "criador de riqueza" sugere.

Em 2016, em Nova York, 50 milionários escreveram ao governador do estado, Andrew Cuomo, pedindo que aumentasse seus impostos porque achavam que as desigualdades econômicas haviam aumentado demais. O grupo incluía Abigail Disney, neta de Walt Disney e Steven Rockefeller, um membro da quarta geração dessa família bilionária. Pelo menos esses descendentes reconhecem que a riqueza não é criada do nada. A ideia é que a maior parte da riqueza é apropriada dos outros, não feita. A riqueza pode crescer, mas somente quando não é concentrada nas mãos de alguns, quando há real transferência de recursos entre todos. Joe compra do Albert, que aluga do Joseph, que contrata Mary, que gasta muito em viagens.  

Michael Lewis, uma das pessoas mais bem-sucedidas que já escreveu sobre o setor financeiro, tentou explicar a um grupo de graduados da Universidade de Princeton, porque o responsável pelo sucesso daqueles estudantes que estavam nessa plateia seria a sorte, mas as pessoas não gostam de ouvir que seus sucessos são resultados aleatórios. À medida que envelhecem e têm sucesso, essas pessoas acreditam que seu sucesso foi inevitável. Eles não reconhecem o papel que o acaso teve em suas vidas.

O mundo a que Lewis se refere é a América, e em particular ele se referia ao "sonho americano" - a ideia de que qualquer um pode alcançar sucesso somente tendo talento, não importando quão economicamente desiguais sejam as sociedades.

Acontece que um estudo demonstrou que aqueles que ganham mais dinheiro geralmente não são muito talentosos. O sonho americano é um mito, uma fantasia. Eles tiveram sorte nos momentos certos em suas vidas. Eles podem ser gananciosos e ter trabalhado duro, mas milhares de outros que trabalharam tão duro como eles, e foram tão gananciosos quanto eles, nem sempre contaram com a sorte. Na maioria das vezes, aqueles que ganharam muito dinheiro já tinham dinheiro dado a eles por herança, o que aumentou suas chances de terem ainda mais. Herdeiros de famílias mais ricas herdaram também seu networking e relacionamentos privilegiados. Aliás, um estudo com ex-alunos de Harvard comprovou que o sucesso desses profissionais, formados por uma universidade de elite, obtiveram mais sucesso em suas vidas devido ao relacionamento adquirido durante seus anos de convivência com colegas abastados e não pelo nível acadêmico superior. 

Vivemos em um mundo em que aqueles que chegaram ao topo chegaram lá não só por um grande mérito, mas porque muitas vezes tiveram algumas vantagens, injustas para começar. O mundo não consiste em alguns seres superiores capazes de fazer as coisas fundamentais que precisam fazer, e uma massa de seres inferiores que nunca poderiam fazer essas coisas e, por isso, devam ser penalizadas.

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